terça-feira, 30 de junho de 2009

…quero apenas umas calças…

Eu já o disse aqui, e já o disse várias vezes a pessoas que estão na minha vida, que reconheço a importância de ser ajudado. Reconheço-o abertamente e sem pudor, porque já o fui. Agradeço eternamente a essas pessoas. O T…, o H…, a M…, a C…, o G…. a L…, o C…, e claro que a minha família! Sem eles nunca teria ultrapassado a doença. E agradeço-lhes, sabendo eles que a minha amizade por eles é real, mesmo não estando sempre com eles. Eles sabem que não foram um meio para mim. Não foram um “comprimido” que tomei. São a todos minha família.
E por perceber isto, ao longo do tempo, tenho sempre procurado, retribuir isto pelas pessoas que vão entrando na minha vida. Quer pessoalmente, quer de outras formas igualmente válidas.

Hoje fui fazer voluntariado. Fui com uma amiga e com um amigo dela, ajudar algumas pessoas que vivem muito abaixo do limiar da pobreza, e assim trazer-lhes e suprimir-lhes uma necessidade básica, através de uma simples refeição, ou seja, dar-lhes comida!

E quanto mais estava com estas pessoas, e ao vê-las sorrir, por uma simples refeição, mais percebia uma coisa e mais pensava num tipo de pessoas que anda neste mundo. As pessoas “shopping – ó -compulsivas “, ou seja, as pessoas que compram, compram, compram, sem necessidade, e que compram só por comprar à procura de uma felicidade momentânea, que têm, por breves momentos, mas desaparece, voltando depois à infelicidade que reina na sua vida. Infelizes, mas de armários cheios! São as pessoas a que carinhosamente chamo de “vazias de conteúdo”, ou de “eucaliptos” porque secam tudo à volta, e ardem num instante, porque não têm a seiva que alimenta a vida, vivendo regidas pelo materialismo.
Contudo, também há pessoas que fazem compras, mas são felizes sem elas. Ou seja, a felicidade manifesta-se nas compras e não as compras na felicidade.

Assim, sem qualquer problema neste momento, abdico de uma t-shirt na Springfield por uma refeição de alguém, uma camisa na Zara por uma fruta de alguém, uns calções de banho na Pull and Bear por outro alguém, uns Ray-ban por outro qualquer alguém.
Abdico de decorar-me por um sorriso de alguém.

Mas falo nisto tudo, porque uma destas pessoas carentes, e última que visitámos (esta encontrava-se na rua a dormir sobre folhas de cartão) ao perguntarmos-lhe se queira mais alguma coisa respondeu:

…quero apenas umas calças…

4 comentários:

Nirvana disse...

A vida está cheia de lições de vida. Situações como a que viveste ontem fazem-me sentir, como disse num post meu anterior, pequenina. As pessoas de que falas, os eucaliptos (sem dúvida, uma excelente analogia), vivem um pouco vazias. Quando a nossa felicidade depende desse tipo de coisas, de vestir a marca A ou B, ter 20 calças ou 10, fica pouco espaço para o que é realmente importante.
"Eu chorava por não ter sapatos até que um dia encontrei um homem que não tinha pés". Faz-nos parar um pouco, pensar, e ordenarmos as nossas prioridades. Dar valor ao que nos rodeia, pensarmos duas vezes antes de nos queixarmos, antes de falarmos de "barriga cheia".
Algumas dessas pessoas, que vivem na rua, fazem-no porque tomaram as decisões erradas na vida. Se calhar porque não tiveram a sorte, como tu, eu e outros tiveram de ter uma família, amigos que os ajudassem a não perder o rumo.
A mim, dói-me imenso quando vejo situações nestas em crianças. Não sei, acho que as hormonas da gravidez têm este efeito no cérebro, que se prolonga para sempre. Fiquei uma lamechas!
Obrigada por partilhares esta história connosco.
Beijinhos

E... disse...

Olá Nirvana! Partilho-o, mas com grande tristeza! Quem me dera não ter motivos para não partilhar isto! Infelizmente...

Gemini disse...

Foi bom, um dia, a tua prioridade ter passado por uma t-shirt da Springfield, uma camisa da Zara, os tais calções de banho na Pull and Bear, os Ray-ban... Tudo isso te fez bem! Mais do que 'olhar', fez-te 'VER'. E partilhares esta tua experiência, vai fazer muitos de nós 'VER-MOS', sem 'olhar'!...

Obrigado pela partilha.

Abraço.

Soraia Silva disse...

Há pessoas que realmente só dao valor ao material, quanto mais têm mais querem, e se for preciso passam de sacos cheios à beira dos que dormem nas ruas, apenas olhando para eles, e virando a cara de imediato...

essas pessoas, um dia só darão conta do que é a simplicidade, e realmente o bem essencial, se passarem por uma situaçao dessas, de pobreza...


por norma quem nos dá mais valor sao aqueles a quem lhes damos um simples prato de sopa, do que aqueles que julgavamos amigos, mas que so pensavam em coisas futeis..

ajudarmos o proximo, nao custa, e faz-se por gosto, nao saberemos quando iremos passar por uma situaçao identica...